Amarelo; sim, o amarelo; e nesse amarelo o toque de ouro, ondas invisíveis de calor
singrando um mar de ar, como se na ideia do aquecimento o corpo sobrepujasse o
congelamento cardíaco de qualquer momento de tristeza; receber sol; e assim abraçar
seja o que for que sentimos, como se não fosse nada além da ideia de algo que perdemos
dentro de nós; comecemos então a lembrar o lago espelhado, lisura que reflete as
estrelas, peixes sedimentados pela concretude da água, e assim até a maior das
Vitórias-régias, revelando o que flutua inerte dentro de nós, como se por causa desse
amarelo-esverdeado pudesse haver esse ouro-negro que brilha, miraculoso e múltiplo
hoje, por este, o mais imóvel dia do verão; peixes dizem este contexto, definem onde os
quatro elementos irrompem nesta profusão de acasos, fortuitas forças de nossa falta
de saber o que é o que sentimos, e meramente escrever isso é perceber como nossos
sentidos nos falham, como nada sai bem ao escrevê-lo, nada sei, nem este poema que sou
compelido a escrever em homenagem a esse amarelo e ouro que refulgem no ar
do verão; impossível ler agora; o olho para sempre nos afasta de onde estamos, e em
local algum podemos admirar as coisas que nos é dado ver, pois cada palavra é outro
local, cada verso é outro dia, a poesia se move mais rápido que o olho, até como se move
este beija-flor, encostando no rosto que não tem boca; portanto, creio em nada que este
poema possa te dar, e ainda assim posso senti-lo escrevendo através de mim, como se
apenas isso fosse tudo o que desejo, esse amarelo e esse ouro, e como esse amarelo
transformou-se para mim na essência desse ouro, e muito mais que o puro vê-la bela
alma, quero que sintas esse poema de amor que resplandeceu dentro de mim durante
todos os oitavos dias de março, esse desejo de nada além do próprio dia, e como
floresceu dentro de meu peito, mais belo que o brilho de que é feito, como se jamais
pudesse existir outra realidade que me abraçasse sem sufocar.