Pequena elegia

Cinquenta anos, e os amados e odiados escurecendo ao unir;

Não vou tentar esquecer,

Mas lembrar é muito difícil;

 

Camas separadas por poucos centímetros,

Desejos gélidos, pensamentos frios

Vou pedir para que nos deixem a sós;

 

Mesmo se tivéssemos feito amor você não me reconheceria,

Cinzas em meu rosto,

Lábios de rescaldo;

 

Ontem entre a vigília e o sono de repente estava na sua casa;

Vi pelo reflexo do espelho você tirando a toalha da cabeça,

E depois seu alvo corpo nu;

 

Noite após noite você prosseguirá arrebentando meu coração?

A planície aveludada,

A gruta solar.

 

Madrigal do condenado

Você que da arte do não,

Sacraliza ainda mais decepção e dor,

E o brutalmente partido coração,

Profana ainda mais carregado de amor;

 

Estou exausto de caminhar!

Deus meu, por que todo esse desejo e tristeza?

Paz para aceitar

Encontra-se em tua criminosa beleza.

 

Pontos de pressão

Ela: ” Queridos Deuses, o que vocês acham que a minha carne é? Poder?

Gosto de homens ricos, quentes e lindos no apogeu!

Se também transei com homens velhos e fracos, devo sofrer

Por um que será sempre meu?

 

Juro que nunca mais te procurarei,

A promíscua está morta, cega às carnais tentações;

Porém percebi que minha alma não aceitaria isso –

A partir de hoje nego negações.”

 

 

Brevemente enrugada e esquecida

Brevemente você acordará enrugada e esquecida,

E evitará no banheiro o espelho, fragância de decadência no ar

Fechará os olhos sonhando, lembrando, do brilho lunar

Que seu corpo emanava, e da adoração dos homens da sua vida;

 

Quantos sofreram males inomináveis por terem testemunhado

A beleza inexprimível vicejante da perfeita carne feminina; a tua;

E amaram você e seu corpo com amor falso ou verdadeiro, vestida ou nua,

Mas um Homem amou a tua alma hedônica como um servo abençoado;

 

E amou os lamentos das mudanças nos teus olhos, testa, boca, unhas,

E ao ajoelhar atrás dos cadeados incandescentes, ele estoico, te diz:

“O amor rumou para o deserto, sem diretriz,

E esconde seu rosto atrás de infinitas dunas”.

 

 

” Quando não se ousa amar sem reservas é que o amor já está muito doente”.

Goethe

 

 

 

 

 

O divertimento de Afrodite

Branco é a beleza suprema desta estrelada noite,

O ventre de ouro da fagulha criativa divina,

Que dançou gloriosamente nas ondas leitosas do paraíso,

Agora quer o combustível que inflama as espumas de seu corpo:

E tudo com gemidos, almejando um devir estável,

Ela gruda seu altar com uma névoa promíscua,

Preparada para cegar a mãe terra com luz eterna:

Afrodite que deu à ela vida e luar,

Cujos lábios gotejam mel de seus favos de marfim,

Adocica a alma de cada amante com aveludados orvalhos,

Agora pela devassidão das musas das nuvens,

Cujas indecisões não permitem uma inspiração duradoura,

Ela as atrai para o seu derradeiro suspiro,

Imiscuído ao hálito vulcânico da morte.

Agora tingem deuses e deusas as horas dos Campos Elísios,

Como artesãos da escuridão no sonho do amor eterno,

Apenas para divertir divina Afrodite;

Beethoven, Tolstoy, Coltrane, e as lamparinas incansáveis

Que graciosamente iluminaram essa escura e lamacenta vereda,

Agora não inseminam mais, apenas renascem

Para divertir divina Afrodite;

Os cristais primaveris cujo odor apetece

O desejo infinito de refinado sabor,

Como o do leite vertendo da fonte do paraíso,

Polinizam sensualmente,

Apenas para divertir divina Afrodite;

Os anjos e superiores arcanjos

Que transformam amantes em marionetes

Perante o grande Sarastro,

Utilizam todas as suas habilidades,

Para divertir divina Afrodite;

E nessa insidiosa e doce coreografia,

A deusa que autoriza a liberação

Do raio enfeitiçado o faz

Apenas para divertir divina Afrodite;

Então deixemos que a eterna teia arraste meus pensamentos

Até a beirada de cama dela na alcova de paredes brancas;

E que o meu desejo seja tão abjeto

Quanto o divertimento de Afrodite.

 

 

 

 

 

 

Poema ato

Em que será transformado este coração quando estiver quieto e enterrado?

Em um enorme pinheiro no alto do Dedo de Deus

Solitariamente exposto, quando as águas dominarem como antes;

 

Enquanto a música das esferas almeja absorver minha vida,

Eu olho para o mar onde a lua está prestes a morrer;

Não há atalho no caminho dos amantes

Hoje vamos beber vinho, fazer amor e dormir na sua casa?

 

 

 

Dia e noite: para uma linda bruxa

Mulher, lamentas agora

Porque ele foi embora?

Embora sem lágrimas você

Me parece triste; não é você?

Sim! À medida que o coração envelhece

Brota o gelo, nasce a sombra; não é o que parece

Aqui e ali, nem o ruído do esfacelamento

Apesar de toda a argamassa de pedra e sentimento;

Mesmo assim sabes porque ainda chorarás com intento;

Agora nada mais importa menina:

Pois tudo, tudo um dia termina;

Nenhum olhar, nem ombros, muito menos boca, revelou

O que o coração falou:

 

” O Homem sepultado

Permanece enfeitiçado

E chora por você vagabunda, ser amado.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vênus em meus braços

Quando você está como uma Vênus em meus braços

Seus cabelos escorrendo como a fonte do Eldorado

Seu corpo brilhante pressiona o meu, criando encantados laços

A saudade de toda a minha vida não deve estar ao nosso lado;

 

Ainda com o gemido do seu amor em mim,

Pianíssimos excitantes alimentando toda a minha esperança,

Desejo o grand finale de uma obra-prima sem fim

E batizar com lágrimas essa doce lembrança;

 

E assim se fez, meu coração agora é seu

Como o inseto é devorado pela flor,

Portanto o próprio inseto

Finalmente descansa,

E com ele, também meus encantamentos;

 

Menos um.

 

 

 

 

 

Com sua permissão

Somente quando fechar os olhos talvez eu te mostre

A linha consumida dos rastilhos

Via vital ausente de brilhos

 

Nos quartos e camas

Semeando como se quisesse sorrir

Campos Elísios ainda a florir

 

A Musa da nuvem está dançando

Desejando ser vista mas não ouvida

Meu amor não estou sonhando!

Não se faça de ressentida!

 

Portanto se eu puder te ajudar o farei imediatamente

Você parece desiludida e doente

Enquanto rezo de cabeça pra baixo sua boca

Está mais quente

Beije, você não vai se permitir entregar?

Nada pode te matar

Com sua permissão, eles te dão um pouco mais, mesmo que seja indiferente

 

Coltrane está tocando

Melodia dionísica, impossível se proteger

Por favor deixe essa mulher se perder

 

Condenada a ir e voltar ad infinitum

Um Sísifo de seios épicos; nada é o que parece

Acordando em teus braços quando anoitece

 

Portanto

Se eu puder te ajudar o farei imediatamente

Logo estará desiludida e doente

Com sua permissão, te dou muito mais, mesmo que não aguente

 

Portanto

Agradeça meu acolhimento sinceramente

Você não sofrerá eternamente

Enxugue as lágrimas e dispa-se novamente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem sente amor?

Amar ou odiar não depende de nós,

Pois o destino amarra nossas vontades com nós;

Na noite em que dois são extirpados, antes das cortinas no fim das cenas,

Almejamos que um conquiste e o outro que ame apenas;

E uma particularmente nos atrai de forma mística

Como a lua cheia do verão, como em cada carcterística:

O significado inexistente; deixe por favor um pouco de saudade

Para apreciarmos; mesmo censurados pela nossa vaidade;

Onde ambos racionalizam, o amor é insípido:

Quem já amou, quem lembrou hoje e sente-se estúpido?